“Como falar da história da Agroecologia sem falar das mulheres?”
É trazendo de suas regiões os rios da vida das mulheres na Agroecologia que, com muita música e força, a plenária das mulheres abre a programação do IV Encontro Nacional da Agroecologia (ENA) neste 31 de maio de 2018. Na mística de abertura, além de trazer seus rios de luta agroecológica, as mulheres lembram o crime contra o Rio Doce. Elas curaram as águas dos agrotóxicos, agronegócio e machismo. As mais de mil mulheres do campo, das águas, das florestas e dos povos tradicionais de todo o Brasil, também curam o país, defendendo a democracia, a liberdade de Lula, justiça para Marielle e muito, muito feminismo.
“Como falar da história da Agroecologia sem falar das mulheres?”
É com essa fala que Beth Cardoso contraria a errônea afirmação de Gualtieri de que não haviam mulheres no princípio da agroecologia. Ao que as mulheres da plenária respondem: A nossa luta é todo dia! Somos memória da agroecologia”.
Para Miriam Nobre, da SOF e da Marcha Mundial das Mulheres, “quando a gente traz nossos rios e fala de tanta luta e enfrentamento, recuperamos nossa memória, nosso corpo e nosso território, a gente decreta que esse ENA é um território livre de violência contra as mulheres, livre de opressão e de desigualdade”.
Noemi Krefta, do Movimento de Mulheres Camponesas, retoma a história da luta das mulheres pela igualdade na agroecologia e na organização da sociedade. “Quando, em 2006, as mulheres sentam e pensam como dar o grito de alerta para o mundo, acontece aquela ação na Aracruz, no Rio Grande do Sul, e que se espalhou por vários cantos do mundo. As mulheres foram chamadas de selvagens. Os homens perguntaram ‘como vocês fizeram isso sem nós?’ As mulheres discutem como fazer o enfrentamento ao capitalismo e a esse modelo do agronegócio”.
O que tem o movimento agroecológico a ver com o que está acontecendo no país hoje?”
Nilce Pereira, da CONAQ, propôs “reforçar a importância e o fortalecimento das mulheres negras nas práticas agroecológicas”. Para ela, “nós mulheres temos que estar mais unidas nesse contexto de golpe”. O coro de Lula Livre e Fora Temer Golpista esteve presente em todas as fileiras da plenária.
Maria Emília, da coordenação da Articulação Nacional da Agroecologia (ANA), afirmou que, em uma sociedade tão movida pelos insumos fósseis, a agroecologia está construindo outras alternativas no país. “Nosso sistema alimentar depende fundamentalmente da agricultura familiar, camponesa e indígena com comida de verdade. Não há desabastecimento de quem está perto de quem produz”.
E continua: “a agroecologia se faz com a construção de valores que significam a emancipação das mulheres, luta permanente contra o racismo e etnocídio. Estamos aqui, acima de tudo, pra dizer que as mulheres estão sempre na vanguarda, na lideranças e na defesa dos bens comuns”.
A defesa das sementes, da plantação sem veneno e da responsabilidade urbana com a agroecologia apareceu em diversos momentos da plenária. “Nossa alimentação, na nossa roça, não tem agrotóxico. Precisamos de mais encontros como esse, e mais indígenas participando desses encontros”, trouxe a pajé Vanda, de Roraima.
Sem feminismo não há agroecologia!
As mulheres fizeram da plenária um espaço importante de exigir a igualdade e a liberdade para as mulheres, inclusive dentro da agroecologia. “Pode produzir sem veneno, mas, se tem machismo e violência, não é agroecologia. É preciso visibilizar o trabalho das mulheres, ampliar a nossa voz nas ruas, nas rádios e nos movimentos. Enfrentamos o machismo em todos os espaços”, pontuou Lucineia, do MST.
Sonia Mara, do MAB, continuou: “é o sistema capitalista que explora, que sangra o trabalho das e dos trabalhadores. E nós, mulheres, quando existe uma crise, somos as primeiras a perder os trabalhos, a ser violadas… nós precisamos construir um feminismo com democracia. Unidade entre a classe trabalhadora, mas também uma auto organização das mulheres, tendo referência do feminismo popular aguerrido”.
“Vamos radicalizar a democracia, construindo o poder popular na nossa casa, no movimento, instalando, nesse ENA, um território de liberdade. Nós estamos declarando: contra o racismo, o patriarcado, o capitalismo, contra qualquer imposição sobre nosso desejo e nossa capacidade de amar, nós estamos em fúria feminista!” Assim, Miriam Nobre fechou o momento de falas dos movimentos que constroem o ANA, em meio a palmas, indignação e muita força.
“Quem fala o que sente é cada uma de nós que está aqui”
No momento de falas abertas do plenário, as mulheres trouxeram suas histórias pessoais, desde suas regiões e trabalhos. Assim, compartilharam suas pautas para a agroecologia, para o feminismo e para a política. Unidas nesta plenária e durante todo o ENA, as mulheres rumam a uma outra sociedade, em defesa da terra e das águas, livre de machismo, racismo, veneno, mineração, golpes e ataques à democracia e aos direitos sociais.