Espalhando sementes feministas: construindo nosso olhar sobre o patriarcado, corpo e sexualidade, saúde e autocuidado, violência e auto-organização.
Entre os dias 10 e 13 de março aconteceu o curso de feminismo e agroecologia “Sementeira Feminista” no município de Iporanga, região do Vale do Ribeira, em São Paulo. O curso foi organizado pela Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras (RAMA) e pela SOF Sempreviva Organização Feminista. Esse espaço de formação teve como objetivo a construção da perspectiva feminista sobre a sociedade, debatendo a violência sexista, saúde e autocuidado, sexualidade e a importãncia da auto-organização das mulheres. 24 mulheres de diversos municípios da região participaram do evento.
“Sem feminismo não há agroecologia” é um mote importante para as mulheres agricultoras e espaços de formação como esse são fundamentais para a concretização das produções e redes agroecológicas: “quero que a gente se olhe com carinho, não como objeto”. As elaborações sobre como esses assuntos aparecem nas vidas das mulheres nutrem ideias para as saídas possíveis no cotidiano. Pensando nisso, a formação de semeadoras foi um dos objetivos do curso. As participantes tiveram a tarefa de multiplicar, espalhar e construir os conhecimentos elaborados durante o curso com outras companheiras nos territórios: “se você jogar a semente na terra fértil, ela vai viver”.
Essa ação dialoga com as necessidades de cada comunidade. Assim como os territórios, as mulheres experimentam a vida de maneiras diferentes. Assumimos nossas diferenças para construir a luta feminista e a agroecologia até que todas sejamos livres. Posicionando a vida no centro, resistimos para defender que somos parte da natureza e dependemos umas das outras para garantir uma rede de cuidado. Essa perspectiva apontada pela economia feminista é evidenciada em espaços como esse, pois construímos saídas coletivas para nossas questões, deixamos de invidualizar os problemas, diminuindo a culpa e transformando em luta política: “essa transformação que teve na minha vida quero ver nas minhas companheiras”.
Os saberes das plantas medicinais e suas contribuições para curar nossos corpos foram pistas importantes para a compreensão de como nossos corpos são afetados pelo sistema heteropatriarcal. A quebra do silêncio foi um passo importante tanto para falar sobre sexualidade e prazer das mulheres, quanto para denunciar situações de violência. “Não precisamos herdar o silêncio de nossas ancestrais”, concluiu uma das participantes.
Fotos: Nathalia do Nascimento