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– iG São PauloGetty Images
Mulheres citam que é preciso relembrar a luta feminista do século 19. “Para mudar o mundo, precisamos mudar a vida da mulher”, diz especialista sobre índices de violência globais
Apesar do bem sucedido avanço das mulheres, a convivência dos gêneros está longe do ideal. Ao lado de meninas, as mulheres são social e culturalmente discriminadas e lideram os principais rankings de violência. “Não podemos esquecer que o 8 de março é um dia de luta. Ela deve ser usada para difundir a necessidade do mundo entender a voz das mulheres, a ouvir e respeitar”, defende Miriam Nobre, de 48 anos, integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF). “Para mudar o mundo, precisamos mudar a vida das mulheres”.
Veja 10 fatos que provam a relevância do Dia Internacional da Mulher:
1. Mulheres ainda são vistas como “metades” de um par
Entre os especialistas ouvidos pela reportagem, todos comemoram que a personagem mulher já deixou de ser “apenas mãe”. No entanto, segundo a empresária Miriam Terezinha Fellipi, de 48, muitos ainda pensam que a mulher só estará completa e feliz após a conquista do pacote “profissional e amoroso”. “Hoje manifestamos nossas escolhas, o que não tinha nas últimas duas gerações. Mas lutamos contra os que pensam que somos bibelôs e não seres pensantes”, conta. Para Miriam, o cenário é positivo e hoje pais estimulam as filhas para o estudo “e não só para esperar um bom casamento”.
2. Mulheres ainda recebem menos do que os homens
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012 revelou que os homens ainda ganham mais do que as mulheres, e que a diferença entre os salários voltou a crescer após dez anos em declínio. A empresária Miriam comprovou a diferença. Segundo ela, trabalhar o dobro ou o triplo do que os colegas homens não era o suficiente. “Eu ganhava a metade do salário deles. O cenário evoluiu, mas está longe de ser igualitário”. E Miriam não está errada.
Nos últimos dez anos, a mulher tem conquistado mais espaço no mercado de trabalho brasileiro. Em alguns cargos, o aumento chegou a 72%, comparando 2002 a 2013, segundo a Catho. Porém, a prosperidade não chega aos bolsos das funcionárias. Hoje, uma diretora ganha R$ 17,630, mas verá o homem – com a mesma posição e responsabilidades – ganhar R$ 21.456, segundo pesquisa de fevereiro.
3. Mulheres ainda têm fraca atuação política
Apesar da chegada de Dilma Rousseff à presidência da República em 2010, o espaço da mulher na política é tímido. Atualmente, elas ocupam apenas 9% das vagas da Câmara dos Deputados e 13% das do Senado. Para Beth Penteado, de 54 anos, consultora de negócios e autora do livro “Afeto com Marketing” (Unicentro), a presença da mulher poderia trazer um raro equilíbrio à esfera política. Para ela, não existe o personagem “mulher coitadinha” e um espaço que não possa ser conquistado. “Precisamos abandonar o discurso vitimado. Essa eterna queda de braço entre homem e mulher não é nada moderno”, disse.
4. Mais de um terço das mulheres já sofreram violência no mundo
Cerca de 35% da população feminina mundial com mais de 15 anos de idade já sofreu violência física ou sexual em algum momento da sua vida, revelou a Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho do ano passado. Ainda de acordo com o estudo, 38% assassinatos cometidos contra mulheres foram executados pelos seus parceiros.
5. Com índice de violência em 45,6%, África é o país mais inseguro para mulheres
O quadro de violência contra a mulher é classificado como um problema de saúde pública pela OMS com “proporções epidêmicas”. Entre os países analisados pela organização, a África é a região com a maior ocorrência de ataques às mulheres: 45,6%. Já no Brasil, com dados de 2011 da Secretaria de Políticas para Mulheres, quatro em cada dez brasileiras foram agredidas verbal ou fisicamente.
6. 150 milhões de meninas sofreram agressão sexual no mundo
Os dados foram divulgados na quinta-feira (6) pela Anistia Internacional. As vítimas, segundo o órgão, têm menos de 18 anos. Além disso, o estudo citou ainda que ao menos 142 milhões de crianças correriam o risco de ser obrigadas a casar, entre os anos de 2011 e 2020. Em fevereiro, a revista The Lancet publicou que uma em cada 14 mulheres já foi – pelo menos uma vez – vítima de abuso sexual por parte de alguém que não o seu parceiro. O levantamento, feito em 56 países, citou que a taxa varia muito para cada país, mas a região central da África Subsaariana registra até 20% dos abusos.
7. No Brasil, entre 2001 e 2011, uma mulher foi assassinada a cada 1h30
A forma de violência contra a mulher mais comum em todo o mundo é a doméstica. Em uma década, no Brasil, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios. Entre os anos 2001 e 2011, em média, 5.664 mulheres morreram de forma violenta, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em setembro do ano passado. A conclusão é que a Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, não diminuiu a mortalidade do gênero. O Ipea concluiu também que mulheres jovens (31%), negras (61%) e com baixa escolaridade (48%) foram as principais vítimas brasileiras.
8. 125 milhões de meninas e mulheres sofreram mutilação genital
Uma prática comum em 29 países da África e Oriente Médio é a mutilação genital, que consiste no corte de parte ou de toda a genitália externa da mulher. O ato é reconhecido pela ONU como uma violação aos direitos humanos, provoca dor intensa e consequências imediatas para a saúde. Além dos 125 milhões que já sofreram o procedimento, a organização acredita que outras 30 milhões correm o risco de sofrer o procedimento na próxima década. Os países com os índices mais altos são: Somália (98%), Guiné (96%), Egito (91%) e Serra Leoa (88%).
9. Mulheres são 59% mais propensas a serem traficadas
Tema da Campanha da Fraternidade, o tráfico humano deve voltar a ser debatido pela Igreja Católica neste ano. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), cerca de 2,4 milhões de pessoas são vítimas do tráfico de seres humanos, um mercado que lucra mais de 32 milhões de dólares ao ano. E as mulheres são as mais propensas vítimas do tráfico, trabalhos forçados e sexuais, com 59%. Homens ficam com 14% das chances.
10. Mulheres não têm autonomia sobre o próprio corpo
“A sociedade julga apenas sob a ótica religiosa e isso está errado”, defende a integrante da SOF. Para ela, um histórico retrocesso foi a aprovação da lei que proibiu abortos na Espanha. O texto aprovado no ano passado anulou a lei de 2010 que autorizava o aborto até 14 semanas. “Foi um retrocesso de 30 anos”, explica Mirian, que defende também uma discussão brasileira sobre o tema. No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida humana pelo Código Penal Brasileiro e prevê detenção de um a quatro anos.
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Em outra esfera, as transexuais são atacadas com o preconceito pelas transformações no próprio corpo. Para Aline Valek, de 27, escritora e feminista, a sociedade nega humanidade às mulheres trans. “Ainda lutamos para quebrar o padrão de beleza que nos aprisionam e os papéis de gênero que nos limitam”.