Como parte de um feminismo popular, enraizado nas práticas concretas de mulheres trabalhadoras em territórios situados, as elaborações e a ação política das mulheres rurais no Brasil têm contribuído para a formulação de políticas públicas que tenham como horizonte a autonomia econômica das mulheres. Diferentes metodologias para compreender e tentar mensurar a complexidade das práticas econômicas das mulheres e suas dinâmicas de trabalho têm sido desenvolvidas a partir das experiências acumuladas das mulheres rurais, desde a organização produtiva, as práticas agroecológicas e os circuitos de comercialização, à mobilização e reivindicação de políticas públicas.

Neste artigo de autoria de Miriam Nobre e Tica Moreno propomos uma reflexão sobre o trabalho e a autonomia econômica das agricultoras e os desafios atuais na relação com as políticas públicas para as mulheres rurais. Trata-se de uma reflexão situada na experiência de atuação da Sempreviva Organização Feminista (SOF) junto a agricultora familiares e quilombolas no Vale do Ribeira e do sudoeste paulista. O artigo
está organizado em três partes, além desta introdução. Em primeiro lugar, nos aproximamos do contexto das políticas públicas para as mulheres rurais em diálogo com os dados sobre o trabalho e a renda das agricultoras. Para isso, nos baseamos em uma leitura de dados do Censo Agropecuário já analisados por nós e da Pnad C, a partir de dados tabulados pelo DIEESE em diálogo com sua análise da situação das mulheres trabalhadoras, divulgada por ocasião do 8 de março de 2024. Na sequência, apresentamos uma reflexão sobre as barreiras e tensões enfrentadas pelas agricultoras em seu processo de formalização, relacionadas aos diferentes requisitos e instrumentos da política pública. A terceira parte recupera reivindicações da última Marcha das Margaridas, maior mobilização das mulheres do campo, da floresta e das águas, no Brasil, em diálogo com os caminhos e respostas apresentadas pelo Governo Federal diante de tais demandas.

O artigo está publicado na Revista Ciências do Trabalho e é um desdobramento do esforço do DIEESE para fomentar debates sobre o tema Trabalho entre trabalhadores, dirigentes sindicais e intelectuais. Clique aqui para acessar a revista completa no portal do DIEESE.