No último domingo (19), algumas mulheres agricultoras do Vale do Ribeira, interior de São Paulo, acordaram cedo. Às cinco da manhã, já estavam na estrada, rumo à Quitandoca, na cidade de São Paulo, para a atividade “Feminismo e agroecologia aproximando campo e cidade”.
A proposta de reunir as mulheres rurais e a população urbana para compartilhar experiências e reflexões lotou o espaço. Agricultoras familiares e quilombolas vindas de seis municípios diferentes, as mulheres participam do programa de assistência técnica e extensão rural (ATER) realizado pela SOF desde 2015. No início de 2016, as mulheres de Barra do Turvo conquistaram um transporte e atualmente seus produtos são vendidos regularmente na Quitandoca, avulsos ou em cestas.
Na atividade, elas tiveram espaço para contar sobre sua produção e quais as transformações geradas em suas vidas cotidianas. “Desde o ano passado, a gente tem uma nova família. Sempre teve muito movimento, mas boa vontade é mais rara. Vocês tiraram muita mulher da depressão, de achar que não temos valor. Nós estamos aqui dando valor uma pra outra”, disse uma das agricultoras de Peruíbe. Vivian, técnica da SOF, mediou a conversa e definiu: “nutrir a nossa mente e os nossos corações, é para isso que serve nosso trabalho”.
Narrar as dificuldades do caminho também foi importante para o momento de troca, para que tirassem dúvidas entre si e relatassem suas ideias e expectativas. Uma delas relatou a resistência em sua cidade diante do avanço das barragens e da mineração, que tentam expulsar o povo de suas casas e locais de trabalho. “O valor sentimental que temos sobre onde nascemos e vivemos não tem preço”, afirmou. Outra relatou a angústia de ver a juventude partir para a cidade em busca de outras possibilidades: “eu acho que vou ser a última agricultura do mundo. Minha filha foi pra cidade estudar direito”.
As mulheres também compartilharam suas vitórias, que são ao mesmo tempo pessoais e coletivas. “Estou emocionada. É a primeira vez que consegui entregar o pãozinho da merenda escolar [para o PNAE]. Essa é uma luta de todas nós”, afirmou Giovana, que produz pães caseiros.
Depois da roda de conversa, todo o público se reuniu para assistir ao lançamento do curta-metragem de animação “Semeando autonomia”, que narra a história de uma mulher rural e sua descoberta sobre as possibilidades de produção em seu quintal.
Em seguida, as mulheres se organizaram em suas bancas para uma feira de seus produtos orgânicos. Havia pães, ovos, mel, compotas, legumes e muito mais. “Eu fico muito feliz com essas feiras porque é uma chance de mostrarmos nossa resistência”, disse Giovana. Uma das mulheres de Pariquera Açu completou: ‘nós em casa vivemos dessa feira, é o que nos mantém. Foi o divisor de águas. Essa é nossa experiência, e que só tem crescido”.
As fotos da atividade estão disponíveis aqui.