O 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, é a principal referência do calendário feminista no mundo inteiro. No Brasil, as mulheres saem as ruas de todo o país, anunciando as nossas prioridades políticas para o ano.
Muitos desafios estão colocados para a luta das mulheres brasileiras. Um aspecto que é evidente sobre a realidade de toda a América Latina e, particularmente no Brasil, é a necessidade de aprofundar e radicalizar a democracia, e de transformar as estruturas deste Estado que mantém e reforça os privilégios das elites. Isso é central para que possamos avançar em várias lutas e reivindicações que ampliem e efetivem a cidadania para todas as mulheres.
Como parte de um processo de rearticulação de diversas organizações do movimento social, estamos envolvidas na realização do plebiscito popular sobre a constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político, uma estratégia para alterar a correlação de forças e pressionar por mudanças concretas no sistema político.
A partir da SOF e, em diálogo com a Marcha Mundial das Mulheres, identificamos como desafio acumular na reflexão e elaboração sobre a despatriarcalização do Estado, que está muito presente nos debates feministas na Bolívia e Equador. Esta perspectiva amplia o debate da reforma política, muitas vezes restrito ao tema da sub-representação feminina, para questões que dialogam com transformações estruturais no Estado, tais como a defesa do Estado Laico, o sentido público de um Estado garantidor de direitos de cidadania e promotor da igualdade entre mulheres e homens, que incorpore a perspectiva da sustentabilidade da vida e democratize a política.
Nesse ano, que marca os 50 anos do golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, a denúncia das atuais práticas autoritárias de repressão e violência policial, que ampliam a criminalização dos e das que vivem na pobreza ou que lutam contra ela, é parte fundamental da luta por transformações no Estado.
Para construir igualdade, é preciso superar a atual divisão sexual do trabalho. As mulheres seguem sendo as principais organizadoras do que chamamos produção do viver. Ou seja, são as responsáveis pelo trabalho doméstico e de cuidados que se realiza cotidianamente, no interior dos lares e de forma não remunerada. Este trabalho, ao mesmo tempo em que é fundamental para a sustentabilidade da vida, é naturalizado como atribuição feminina e não é compartilhado com os homens e o Estado.
Estas questões estão vinculadas à necessidade de aprofundar a reflexão feminista sobre o atual modelo de (re)produção e consumo, o questionamento ao poder das empresas transnacionais e aos grandes projetos e mega-eventos em nosso território. Reforçamos a denúncia dos processos de ofensiva do capital sobre a natureza e sua vinculação com a mercantilização dos corpos das mulheres, assim como denunciamos a ofensiva conservadora que pretende controlar o corpo e a sexualidade das mulheres, e se reflete especialmente na dificuldade de avançar uma legislação que garanta o direito das mulheres ao aborto.
Afirmamos a resistência e as alternativas feministas, a partir dos acúmulos e práticas construídas pelas mulheres no campo da soberania alimentar, agroecologia, economia feminista e solidária.
Neste 8 de março, afirmamos que autonomia e igualdade são princípios centrais de um feminismo que propõe uma transformação estrutural na sociedade, que alcance a vida de todas as mulheres. Por isso nos somaremos às ações de rua, fortalecendo a luta feminista das mulheres que estão em marcha até que todas sejamos livres e iguais.