Nos dias 02 e 03 de dezembro aconteceu o Encontro Feminismo e Agroecologia, organizado pela SOF, que reuniu mais de 70 mulheres quilombolas, indígenas, pescadoras e agricultoras de sete municípios do Vale do Ribeira: Barra do Turvo, Registro, Pariquera Açu, Peruíbe, Miracatu, Iguape e Itaoca. O encontro foi um momento importante para a avaliação da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) realizada pela SOF nos anos de 2015 e 2016 com mulheres de 12 municípios do Vale.
O primeiro dia foi todo dedicado ao seminário de avaliação, momento em que as mulheres expuseram suas trajetórias, trouxeram seus pontos de vista sobre o trabalho de ATER, suas expectativas e desafios. Muitas relataram que esse trabalho as ajudou a produzir sem veneno e a fortalecer a auto-organização, com atividades, encontros e mutirões em que as mulheres se juntam para trabalhar nas terras umas das outras. “Para nós foi muito importante aprender a trabalhar com agroecologia, tirar o veneno da nossa vida”, disse Jana Pacca, do município de Pariquera Açu.
Maria Izaudite, da Barra do Turvo, fez um relato sobre as transformações que viu em seu grupo: “Foi um trabalho muito lindo que essas técnicas fizeram conosco. Um trabalho diferente. Não vieram colocar em cima de nós o que a gente devia fazer, mas perguntaram o que a gente queria fazer. E nisso, muitas de nós, mulheres que estavam dentro de casa, que achavam que não tinham nada, que não sabiam fazer nada… hoje estamos aqui, com uma vida diferente, com documento na mão. Hoje tem muita coisa que aconteceu nas nossas vidas, e vocês sabem. Foi um caminho lindo para a gente, e deu muito trabalho para elas também”.
No segundo dia, as mulheres organizaram uma feira de economia feminista e solidária, vendendo artesanatos, como crochê e cestarias indígenas, e alimentos da própria produção: frutas, legumes, mel, pólen, pães, farinhas, compotas, mudas agroecológicas etc. Além disso, o dia teve show, ciranda, exibição de curta-metragens e duas rodas de conversa, uma sobre comercialização e grupos de consumo e outra sobre a situação das mulheres indígenas na região. O encerramento do encontro contou com a presença do grupo de coco Semente Crioula, que trouxe músicas populares e foi presenteado, em troca, com sementes crioulas das mulheres do Vale.
“A nossa produção aumentou, a documentação ajudou, explicou como fazer a anotação da nota produtora, que sempre os outros faziam para nós. Elas perguntaram o que a gente precisava. Veio gente de São Paulo querendo comprar nossos produtos. Nós queremos lutar cada vez mais. As crianças e os jovens estão crescendo, e nós queremos que eles tenham um caminho bom na vida, uma alimentação de qualidade, com o que nós mesmos plantamos. Na roça, no sítio, nós temos um futuro bom, só com gente honesta”, afirmou Jane, do Quilombo Terra Seca, na Barra do Turvo.