O SESC Belenzinho, na região leste da cidade de São Paulo, recebe a partir do dia 26 de fevereiro o espetáculo Carne, da Cia. Kiwi de teatro. A apresentação une o trabalho cênico à discussão sobre a violência contra as mulheres e as marcas do patriarcado na sociedade. A peça, composta no formato de quadros, é encenada por duas atrizes e uma percussionista.
Carne é fruto de um processo que se iniciou em 2006, com a pesquisa do grupo sobre a mercantilização do corpo e da vida das mulheres para uma peça anterior. Os trabalhos se influenciaram e o grupo decidiu se lançar em um novo projeto, que debatesse a relação do patriarcado e do capitalismo a partir dos acúmulos do feminismo socialista. Para Fernanda Azevedo, co-roteirista, atriz e figurinista da peça, “a ideia era discutir como esses dois sistemas opressores se retroalimentam”.
“Com a aproximação da pesquisa, me propus a estudar de verdade o feminismo, as várias formas de feminismo. Ter a oportunidade de estar com essas mulheres, conversar com elas e entender o que eram os primórdios do movimento feminista no Brasil foi muito importante”, relata. A companhia organizou debates e momentos de formação com mulheres acadêmicas, militantes, economistas, entre tantas outras que deram suporte para a argumentação da peça.
O formato de Carne reúne múltiplas linguagens e traz uma proposta diferente de teatro, conhecido como teatro-documentário. “Trabalhamos com estatísticas de violência, textos de historiadoras, depoimentos de mulheres, poemas, músicas brasileiras machistas (que fazemos todo um trabalho de desconstrução), muitas imagens, desde as artes plásticas até a publicidade”, explica Fernanda sobre o gênero.
Segundo a atriz, o teatro tem uma capacidade relevante de mostrar e questionar a realidade através de sua própria linguagem. A partir de uma cena que reúne vídeos de publicidade machista, ela exemplifica: “as mulheres andam na rua, veem propagandas enormes, chegam em casa, veem mais publicidade sexista e não se dão conta de como é violento. Queremos que o trabalho sirva como uma provocação que vai abrir e continuar o debate. Por isso, a relação com os movimentos feministas é muito importante. A gente sabe que o teatro não vai mudar a vida das mulheres, mas pode abrir os olhos dessas mulheres sobre essa desigualdade e sobre como se colocar contra ela”.
A peça está em cartaz nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro e 04, 05 e 06 de março. Os ingressos podem ser comprados online ou nas bilheterias.