A RAMA (Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras da Barra do Turvo) e a rede de grupos de consumo responsável tem uma trajetória de quase cinco anos de atuação em aliança. Quando o isolamento social se tornou necessário para conter a contaminação por covid-19, em março de 2020, as redes mantiveram seu compromisso em assegurar a comercialização direta dos produtos agroecológicos das agricultoras.

A partir daí, novos coletivos se formaram para organizar doações de comida boa, seja ela fresca ou preparada, para populações em situação de vulnerabilidade, como indígenas guarani, população de rua ou mães solo. As redes cresceram e se entrelaçaram, permitindo que a comercialização das agricultoras aumentasse também. Mais agricultoras e grupos se somaram, e várias delas ampliaram suas áreas de cultivo. Sobre isso, vale a leitura do artigo “Resiliência de agricultoras agroecológicas organizadas em rede: a experiência da RAMA face à pandemia da Covid-19”, presente na publicação Um meio tempo preparando outro tempo, lançada este ano pela SOF.

O aumento da comercialização em um contexto bastante particular tem trazido vários aprendizados e desafios. A vontade de entendê-los melhor e o horizonte de que a comida boa chegue cada vez mais na periferia e se mantenha ao longo do tempo motivou a SOF a organizar o estudo Possibilidades e desafios para o acesso e comercialização agroecológica na periferia da Grande São Paulo, realizado por Rosana Miranda, com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. O estudo sistematiza experiências de nove iniciativas de comercialização e doação na Grande São Paulo: Coletivo de Consumo Rural Urbano de Diadema, Pontes da Terra, Ponta a Ponta, Quebrada Orgânica, Cesta Aberta, Orgânicas para Todxs, cooperativa Terra e Liberdade, Sopão das Manas e coletivo Mulheres do GAU. Com algumas já atuávamos há mais tempo, outras conhecemos melhor nesse processo.

O estudo foi apresentado em uma reunião no dia 09 de junho, com a participação dessas iniciativas, de outras parceiras da rede de consumo responsável e de movimentos como o MST e UNEAFRO da Grande São Paulo e de Registro. Compartilhamos mais histórias de como tais iniciativas estão reorganizando territórios e juntando coletivos e movimentos atuantes na cultura, educação, saúde, moradia, agricultura urbana, articulando luta feminista e antirracista. As participantes saudaram a possibilidade de pensar esse processo de forma coletiva e estratégica. Nos sentimos navegando em um mar de possibilidades.

Impactos e desafios das iniciativas de consumo responsável

Segundo o estudo, “embora não seja possível apurar com precisão, é possível estimar que as iniciativas possibilitaram entre 2020 e 2021 o acesso a mais de 86 toneladas de alimentos agroecológicos para mais 15600 famílias, gerando uma renda que supera os R$250 mil para as agricultoras e agricultores que forneceram os produtos. Esses números, que provavelmente estão subestimados, mostram que apesar das limitações dos grupos, sua atuação não é negligenciável e produziu impactos significativos”.

Dentre os desafios gerais, se destacam, entre outros, “superar obstáculos no campo da produção, seja para readequar os espaços de produção para as novas demandas, avançando na transição agroecológica, seja na capacidade das próprias comunidades desenvolverem suas estratégias autônomas a partir da agricultura urbana” e “aprofundar as relações entre os grupos com seus consumidores e comunidades que acessaram os alimentos em um contexto de distanciamento social e poucas atividades presenciais, para traduzir melhor as ações de solidariedade em um horizonte político coletivo de autonomia e soberania alimentar”.

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