Nos dias 30 e 31 de maio e 1 de junho, aconteceu no Vale do Ribeira o 8º Intercâmbio da Rede EsparRama. O intercâmbio agregou participantes do curso Alternativas Feministas e Agroecológicas, organizado pela SOF. A saída de campo era referente ao módulo do curso intitulado “Fundamentos e inter-relação entre agroecologia e feminismo”. A atividade envolveu a Rede EsparRama de consumidoras e consumidores responsáveis, a Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras da Barra do Turvo (Rama), a equipe da SOF e teve apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e Espace Femmes International (EFI). 47 pessoas das cidades de São Paulo e Registro partiram juntas para trocas de experiências e reflexões sobre o processo de comercialização dos alimentos. A atividade tinha como objetivo fortalecer a relação campo e cidade consolidada pelos grupos.

O relatório completo do intercâmbio pode ser lido aqui.

A chegada e o primeiro contato

No primeiro dia de atividades, 18 mulheres da Rama abriram suas casas e seus corações para acomodar as e os participantes e também oferecer vivências que envolvem os seus modos de fazer agricultura e troca de conhecimentos da vida cotidiana. No bairro Rio Vermelho, a agricultora Ana recebeu o grupo com cafezinho na mesa e muita prosa. Fizeram juntas geleia de hibisco, bolos e bolachas para o café da manhã que seria oferecido no último dia de intercâmbio. No mesmo bairro, quilômetros à frente, a agricultora Marlene encantou quem estava chegando com pães de pinhão. Também trabalharam nos canteiros do quintal, plantando alho e ervilha e preparando o terreno para o próximo plantio. Em paralelo, agricultoras do mesmo bairro estavam fazendo outras atividades, como plantio de mandiocas e cuidado com os animais da casa. As conversas à beira do forno a lenha esquentaram não só os corpos, mas enriqueceram as almas. Ouvir outras histórias é sempre bom, mas ouvir histórias que conectam com a nossa vida é melhor ainda. 

Vera e Aparecida, do grupo Margaridas, fizeram andanças pelas áreas de produção da família e surpreenderam o grupo com tamanha diversidade. Conversaram sobre os produtos beneficiados que ofertam para as vendas da Rede e possibilidades de adaptações. Um pouco mais à frente, no grupo Perobas, dona Aparecida e sua família apresentaram o jeito de fazer açúcar mascavo. “O tempo do açúcar quem sabe é a dona Aparecida, lindo ver o reconhecimento dos filhos com a sabedoria da mãe”, disse uma das participantes do intercâmbio. Na casa da Jane, as histórias e as memórias da família se entrelaçam também com o que a família cultiva no território.

“A história da semente também é a história da família, Jane plantava quiabo e o companheiro dela plantava feijão. Agora eles continuam juntos essa história.”

Karina

No bairro Córrego da Onça, os grupos se dividiram em duas casas: na da Dilma e na da Mari. Com Dilma, trabalharam na composteira e as crianças tiveram a oportunidade de estar perto dos animais da família. Com Mari, entre cafés e muitas prosas, tiveram a oportunidade de conhecer a roça e aprender o adubo feito pela agricultora com os troncos de Jussara.

Ela nos mostrou os troncos onde uma espécie de besouro ajuda a decompor a madeira e a transformar um adubo excelente”.

Marina

Chegando no Grupo Rocha, quase já perto da última parada, Zenilta, Aparecida e Francisca encantaram quem foi chegando. Testaram uma nova receita de biscoito para a venda nos grupos de consumo, apresentaram o modo de fazer do tradicional cuscuz de mandioca e botaram a mão na massa no plantio de mandioca, batata doce e cebola roxa.

No Quilombo Ribeirão Grande, o grupo que foi recebido pelas mulheres do Raiz, que ensinaram a fazer uma receita tradicional de pastel de milho com recheio de palmito pupunha, que mais tarde seria vendido na festa junina do quilombo.

Socialização, grupos de discussão e confraternização. 

Dando sequência às atividades no segundo dia, os grupos se encontraram no Quilombo Ribeirão Grande junto com as mulheres da Rama. Cada grupo trouxe um elemento para representar como foi sua vivência. Também aproveitaram a tarde e realizaram três rodas de conversas sobre os temas: comunicação, feiras e vendas para os institutos. 

O sol foi caindo e com ele chegou uma noite festiva de temática Junina,com direito a fogueira, teatro, dança e comidas típicas. O quilombo também convidou toda a comunidade para a festa e vendeu os pastéis tradicionais de milho para apoiar na reforma de seu salão comunitário.

Assembleia da Rama, visita à agrofloresta e cachoeira Monjolo

No último dia, começamos as atividades com uma mística guiada por Miriam Nobre, onde dançamos juntos ao som da música “Árvore”. Thais Mascarenhas guiou uma conversa sobre formalização, que é um dos desafios da Rama. Thaís explicou os diferentes tipos de atividade, formas e tempos de trabalho. Quem estava presente na roda e já fazia parte de cooperativas ou associações também pôde contribuir com suas experiências. Aproveitamos o nosso momento em conjunto (grupos de consumo, institutos e Rama) para falar sobre ajustes dos preços dos produtos, padronização e embalagens.

Enquanto isso, um outro grupo formado pelos participantes do curso, iniciaram uma caminhada de reconhecimento pela agrofloresta da Mari. Também aproveitaram para conhecer a cachoeira Monjolo, onde é produzida a farinha de milho flocada pelas mulheres do grupo Raiz.

Fechamento e despedidas

Finalizamos o encontro com um delicioso almoço feito pelas mulheres do quilombo. Elas cuidaram da alimentação durante toda a estadia por lá. As mulheres da Rama também organizaram uma feira para venda de seus produtos, como uma forma de mostrar para quem estava conhecendo pela primeira vez a potência que são os alimentos produzidos por elas.