Sábado, dia 08 de fevereiro de 2025, foi lançado o livro “Mulheres em defesa do território-corpo-terra-águas”, organizado por Elisangela S. Paim, do Programa de Clima e Energia para a América Latina da Fundação Rosa Luxemburgo e Fabrina P. Furtado, professora do CPDA-UFRRJ. A publicação é da Fundação Rosa Luxemburgo em parceria com a Editora Funilaria.

“O livro reúne relatos sobre lutas e resistências, como a construção de projetos populares de agricultura agroecológica feminista, e analisa o avanço do capitalismo extrativista, suas estratégias de dominação e os impactos do agronegócio, da mineração e de outras formas de exploração sobre os territórios e modos de vida das comunidades”, como consta na apresentação da publicação no site da Fundação.

A obra traz o prefácio escrito por Silvia Federici e conta com a contribuição de um texto de Nilce Pontes, da Associação do Quilombo Ribeirão Grande-Terra Seca e da Coordenação Estadual da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e Natália Lobo, da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). O lançamento aconteceu com uma roda de diálogo na Livraria Expressão Popular.

O texto “tem o desafio de contar uma história coletiva de elaborações dos povos e das mulheres sobre a financeirização da natureza”. As autoras falam da economia verde à partir da realidade vivida historicamente e atualmente pela população do Vale do Ribeira, no extremo sul do estado de São Paulo. Uma realidade “que não é diferente da de muitos outros no Brasil e no mundo”.

Durante o bate-papo, Natália Lobo apresentou brevemente esses conceitos teóricos que são usados no texto, destacando que o foco está muito “sobre o que acontece no território da Nilce, no Vale do Ribeira, com as unidades de conservação” e seus diversos formatos que juntos representam 70% da extensão do município.

Como introduziu a Natália Lobo, a noção de economia verde é usada “como termo bem abrangente para falar de todas essas iniciativas ambientais de marcar o capitalismo de verde – como o mercado de crédito de carbono ou iniciativas de responsabilidades ambientais – como forma de maquiar as ações ruins que as empresas têm no campo do extrativismo também. A mesma empresa hoje em dia trabalha no petróleo e energia renováveis ou usa o próprio setor de energia renovável para mascarar a ação que tem com petróleo, que hoje na opinião pública tudo mundo já reconhece como uma coisa ruim para natureza. Então seria um pouco isso, essa sensação do capital tanto de criar um novo mercado quanto também de fazer ações para maquiar o extrativismo ou os empreendimentos que tem um impacto mais reconhecido assim sobre a natureza.”

Nilce Pontes apontou que a financeirização da natureza nos territórios se dá sob o pretexto de tirar as pessoas da pobreza, promovendo geração de renda e de desenvolver economia no Vale do Ribeira, mas num processo em que não se reconhece às comunidades nem os seus saberes. Assim, são muitas as formas que a população do Vale do Ribeira vê o avanço do capital e da economia verde sobre seu território assim como seus direitos violados.


A falta de políticas públicas é uma violação dos direitos, sendo uma forma de expropriação por tornar um espaço inviável e forçando os jovens a saírem de suas terras, assim como o avanço do turismo predatório nos territórios e do extrativismo, promovida pelo mesmo Estado que não implementa políticas públicas.


“Ao mesmo tempo que nós estamos lá secularmente, nós estamos sendo desapropriados do nossos territórios e da própria implementação de políticas básicas: ter acesso à moradia, à educação, etc. Ninguém quer sair, mas a necessidade nos obriga”.
Nos diversos problemas que o manejo dos parques estaduais trazem, enquanto são questões que precisam ser aprofundadas pela sociedade, evocou a falta de acesso à informação pela população e povos de territórios para se defender e defender seus territórios, informação que acaba ficando detida por um grupo limitado de pessoas. Por exemplo, os Pagamento por Serviços Ambientais, como reflorestação do mato, tem contratos e regulamentos específicos dos quais as pessoas não tem conhecimento, o que acaba desmotivando a comunidade.


Historicamente, os povos tradicionais do Vale do Ribeira se colocaram como sujeitos do movimento agroecológico e de resistência a esse avanço. A agricultora e liderança evocou especificamente a organização da Rama – Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras da Barra do Turvo – enquanto coletivo que faz enfrentamento ao capital através da agroecologia: “Hoje nós somos uma associação, um coletivo de mulheres, e o nosso papel é desenvolver uma economia alternativa, a partir das nossas vivências, e nos reconhecer como sujeitas de direitos e sujeitos políticas também, na construção e elaboração de propósitos para o nosso território”.


Participaram também da conversa Lucinéia Freitas, dirigente do setor de gênero do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). A moderação foi feita por Katarine Flor, da Fundação Rosa Luxemburgo. Elisangela Soldateli Paim e Fabrina Furtado também estiveram presentes.

A versão digital do livro está disponível para download gratuito nos sites da Fundação Rosa Luxemburgo e para compra da versão física no site da Editora Funilaria