Nos últimos dias 5 e 6, a Marcha Mundial das Mulheres participou da I Assembleia da Aliança para a Soberania Alimentar na América Latina e no Caribe. O evento aconteceu em Bogotá, capital da Colômbia, e contou com a participação de outras 22 redes, movimentos e organizações latino-americanas e caribenhas, além de 11 organizações colombianas.
A Assembleia teve como objetivo contribuir para avançar no debate teórico e na luta pela construção da Soberania Alimentar. Além disso, o evento foi importante para apoiar as organizações sociais e o povo da Colômbia que buscam uma solução definitiva para o conflito armado, para o deslocamento de milhões de camponeses e camponesas, indígenas e afro-descendentes, e para o conflito ambiental em curso na Colômbia.
Para a Marcha Mundial das Mulheres, a participação nesta Assembleia foi importante para continuar a avançar no debate sobre a Soberania Alimentar, um dos eixos centrais do movimento. Além disso, este espaço se insere no processo de alianças com a Via Campesina e com a Amigos da Terra Internacional. Esse processo faz parte da estratégia da MMM de articulação com movimentos sociais que compartilham de um mesmo objetivo: construir um mundo baseado em igualdade, liberdade, autodeterminação, justiça e solidariedade.
Com uma história de mais de 11 anos, a Aliança é resultado de participações coordenadas em Conferências Especiais sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, e de consultas sobre diretrizes para o uso e posse da terra, das florestas e dos ecossistemas marinhos, entre outros cenários, mas também é fruto da mobilização e construção de lutas unitárias e populares. Em suma, a Aliança representa os debates e articulações que deram origem à discussão global acerca da Soberania Alimentar.
Para Francisca Rodriguez, membra da Coordenação Latino Americana de Organizações do Campo (CLOC/Via Campesina), “toda esse trajetória contribuiu para fortalecer nossas alianças e nossa confiança mútua e construir propostas”. “Como um avanço qualitativo deste processo, o desafio agora é aprofundar a acumulação de forças populares para construir nossa soberania.”
Tatiana Roa, integrante do Comitê Executivo de Amigos da Terra Internacional e coordenadora da CENSAT Água Viva, afirma que “a Aliança consolidada hoje representa uma confluência de redes e movimentos regionais e sub-regionais. Ela tem como objetivo fortalecer a unidade dos povos que lutam pela Soberania Alimentar enquanto elemento fundamental para a construção de um novo modelo de sociedade, baseado no Bem Viver e na Soberania Popular “.
Estiveram presentes na Assembleia mais de 50 delegados e delegadas internacionais de organizações camponesas, indígenas, afrodescendentes, pescadores, de mulheres, jovens, trabalhadores rurais, ambientalistas e produtoras agroecológicas. Todos esses, como sujeito coletivo, apresentaram o compromisso coletivo para levar adiante a luta por Soberania Alimentar, assumindo-na como um princípio, visão, legado, direito e um dever construído pelos Povos. Eles(as) se comprometeram também a fortalecer a Aliança como uma plataforma unificada, proposta para o conjunto da sociedade.
Ao longo dos dois dias de atividades, os debates destacaram a importância da defesa dos territórios e da biodiversidade enquanto condição necessária para enfrentar o monopólio e acaparamento de terras, a exploração em grande escala, o extrativismo e a privatização dos bens comuns. Em consequência disso, e como proposta para a construção de alternativas ao modelo de desenvolvimento capitalista, a Agroecologia se apresenta como um modo de vida que recupera o que foi perdido: uma conexão com os conhecimentos ancestrais e uma força que resgata os mercados locais como parte fundamental de preservar os valores e os saberes comunitários.
Nas palavras de Charles Vincent, membro da organização GRAIN, a alimentação não é uma mercadoria, mas um Direito Humano reconhecido pelos Estados a partir de diversos instrumentos jurídicos internacionais. Reconhecer esse Direito obriga os Estados a respeitar, proteger e garantir o Direito à Alimentação dos povos e, especialmente, dos produtores de alimentos.
O encerramento da Assembleia foi marcado pela reafirmação do compromisso conjunto de continuar fortalecendo esta luta e a Aliança, e de desenvolver novas articulações que possibilitem dar continuidade às transformações profundas que o Continente requer. Fica claro, portanto, o esgotamento de um modelo de desenvolvimento o qual, com base nas diversas formas de extrativismo, marca a continuação de séculos de espoliação e extermínio.
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Veja a cobertura da Radio Mundo Real sobre a Assembleia.