Com o grito “Viva as mulheres camponesas! Nós somos as mães da soberania alimentar!”, teve início a IV Assembleia de Mulheres da Via Campesina para a construção do feminismo camponês e popular, em Jacarta, na Indonésia. A Assembleia retomou a memória de Maria do Fetal, militante que morreu no ano passado vítima de violência, e reafirmou a importância da eliminação da violência contra as mulheres do campo e da cidade.
A jornada de debates começou na última quinta-feira (06/06), reunindo mais de trezentas agricultoras de todo o mundo para discutir o contexto da crise, o capitalismo e suas conseqüências para as mulheres.
Após as conferências realizadas na Índia, em 2000, no Brasil, em 2004 e em Moçambique, em 2008, a reunião na Indonésia tem como foco o patriarcado, o feminismo e a construção de um feminismo camponês e popular que reconheça a diversidade de mulheres integrantes da Via Campesina. A quinta-feira foi o primeiro de dois dias de discussões profundas sobre suas lutas, seus desafios e suas aspirações, sob o tema: “Plantadores de luta e de esperança, pelo feminismo e pela soberania alimentar!”.
Elisabeth Mpofu, representante da Organização dos Pequenos Agricultores do Zimbabwe, denunciou “os efeitos do capitalismo, que tem influenciado os Acordos de Livre Comércio e propiciado a desregulamentação que prejudica o desenvolvimento alternativo”. Ela também insistiu que a “crise do capitalismo tem prejudicado os mais pobres, em particular com as mulheres rurais, roubando-lhes o acesso aos mercados ou produtos de qualidade”. “As políticas financeiras impostas pelo Ocidente têm afetado negativamente a soberania alimentar das comunidades locais, ampliando o fosso entre ricos e pobres.”
Durante os painéis, têm sido numerosas as referências à defesa dos bens da natureza, reconhecendo que a aceleração da mudança climática aumenta o sofrimento das pessoas. Além disso, vem sendo destacada a importância do campesinato devido ao seu papel estratégico como motor de valores comunitários e da soberania alimentar.
Durante todo o dia, foram desenvolvidos grupos de trabalho nos quais tem se debatido como o patriarcado e o capitalismo afetam a vida das mulheres. Também foram expostos testemunhos e experiências de mulheres na Ásia, na África, na América, na Europa e na Palestina.
Na sexta-feira, a Assembleia continuou com duas mesas-redondas sobre o processo político e de organização para as mulheres da Via Campesina, e em relação à campanha “Basta de Violência contra as Mulheres”. Também foi elaborado um plano de ação por continentes, com uma agenda de lutas e ações conjuntas, assim como formação, comunicação e intercâmbio.
A mística esteve presente em ambos os dias da Assembleia, para representar e projetar a confiança em alcançar objetivos comuns, para além das diferentes culturas, e para ressaltar a importância de se articular as lutas dos camponeses de todo o mundo neste momento histórico.
O primeiro dia da Assembleia começou com danças e canções populares da Indonésia ,pela manhã, e encerrou-se com a exibição do vídeo Mulheres Campesinas (Mujeres Campesinas), realizado pela Via Campesina, e que reconhece o papel político e o protagonismo do movimento nesses 20 anos de luta e mobilização.
Também foram narradas experiências e pontos de vista a partir da Marcha Mundial das Mulheres, incluindo a denúncia da violência exercida pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado, potencializando a campanha Basta de Violência.
Na sexta-feira, o encerramento da IV Assembleia Internacional das Mulheres foi realizado por agricultoras da Ásia e da África. Anteriormente, foi exposta uma declaração final em que as mulheres refletiram sua proposta alternativa para enfrentar o neoliberalismo e, acima de tudo, as estratégias para a luta contra o patriarcado.
Um total de 500 pessoas, camponeses e camponesas, pequenos e médios agricultores, povos sem-terra, mulheres agricultoras, povos indígenas, imigrantes e trabalhadores rurais de todo o mundo participaram, nos dias posteriores, da VI Conferência da Via Campesina, que visa fortalecer o movimento e suas alianças, assim como aprofundar os debates, tais como o direito à soberania alimentar e à terra e a luta contra o modelo neoliberal e o capital.
Campanha de Combate à Violência contra as Mulheres
Na sexta-feira, a IV Assembleia Internacional de Mulheres relançou a campanha “Basta de Violência contra as Mulheres”, que foi impulsionada pela Via Campesina há quatro anos. Esta é uma das campanhas mais ousadas e importantes estabelecidas com o movimento camponês internacional, e é resultado de um processo de discussão e debates que se materializou na V Conferência da Via Campesina, em Maputo, em 2008.
O objetivo é denunciar a violência que as mulheres enfrentam, baseada na discriminação de classe, gênero, etnia e sexualidade, que agrava-se para as mulheres do campo, visando reafirmar o compromisso com a construção de novas relações de gênero dentro da Via Campesina.
Fonte: La Via Campesina
Tradução livre: SOF-Sempreviva Organização Feminista