O curso debateu economia feminista e a construção de uma perspectiva crítica sobre a divisão sexual do trabalho e o trabalho de cuidados foram aspectos centrais na formação.
Entre agosto e novembro a SOF Sempreviva Organização Feminista e a Marcha Mundial das Mulheres de São Paulo (MMM-SP) articularam o curso de formação[1] “Feminismo Em Marcha” – Turma Mariah Leike na Associação dos Trabalhadores e Moradores da Vila Primeiro de Outubro, localizada na Vila Lourdes, Zona Leste da cidade.
O nome da turma relembra a companheira Mariah Leike, comprometida com a luta feminista e por moradia digna na região, e que faleceu em 2019. Os encontros mensais reuniram em torno de 25 mulheres, dentre elas, militantes da MMM-SP, mulheres do movimento de moradia, e mulheres da região que chegaram pela primeira vez num espaço de formação feminista.
O objetivo foi aprofundar temas que se relacionam com as desigualdades, discriminações e violências de gênero, raça e classe que as mulheres enfrentam na sociedade. Como por exemplo, em relação aos trabalhos pagos e não pagos, nos cuidados da família, das comunidades, a violência contra as mulheres, população negra, LGBTI+, entre outros temas.
Além disso, o curso também buscou proporcionar um espaço de aprendizados coletivos, com troca de experiências e conhecimentos entre as participantes na perspectiva de construção de movimento, como a organização das mulheres no feminismo popular da MMM.
Para Renata Reis, da equipe da SOF, “esse processo de formação também contribuiu para conectar as mulheres também da economia solidária como a Amesol (Associação de Mulheres da Economia Solidária), o que proporcionou espaços de reflexão sobre economia e quais princípios da economia a gente quer construir, quais práticas as mulheres têm realizado para construir a economia que a gente quer”.
Outro ponto ressaltado é a importância do debate sobre construção de movimento como forma de fortalecer a MMM localmente, para que as mulheres possam atuar na cidade. Organizando a luta por uma cidade onde as mulheres estejam presentes com suas políticas. Políticas que pautem a divisão sexual do trabalho, com espaços de fortalecimento e de transformação, pois na lógica atual sobrecai sobre as mulheres o trabalho reprodutivo de cuidados e o trabalho doméstico.
Apesar dos desafios de realizar o processo em meio a um semestre com eleições municipais, o processo foi avaliado como muito positivo para refletir, produzir conhecimento desde os territórios periféricos da cidade, debatendo desigualdades e exclusões.
Sonia Maria dos Santos, militante da MMM Zona Leste, da região da Mooca, destacou como positivo que “o grupo foi formado por diferentes bairros e nós fomos percebendo o que há e o que não há no nossos bairros, como serviços públicos. Também conhecemos outros outros territórios, debatemos sobre economia, economia solidária e o feminismo que é a base do nosso curso. Outro ponto importante foi o debate sobre o trabalho das mulheres, a dupla Jornada das Mulheres, né? Vinte e quatro horas é pouco paras mulheres que trabalham tanto. Tanto dentro de casa, com os filhos, com as filhas e o trabalho fora”.
Confira abaixo uma galeria de fotos e mais depoimentos compartilhados pelas participantes da formação:
[1] O curso de formação faz parte das atividades que compõe o projeto contemplado pelo Fomento n°954083/2023 do Ministério das Mulheres