Este sábado, dia 11 de março, acontecerá a 2ª Mostra de Economia Solidária e Feminista, no Largo da Batata, em São Paulo. A Mostra contará com a presença de mulheres, urbanas e rurais, de 50 organizações e cooperativas do Estado de São Paulo, com produtos como artesanatos e alimentos sem agrotóxicos. Das 10h30 às 17h estão confirmadas diversas oficinas de trabalhos manuais, como de tear e de gravura em vidro. Também haverá uma oficina de criptografia, ministrada pelo coletivo Actantes, e uma roda de samba no fechamento da Mostra. O evento é uma realização da SOF em parceria com a RESF e a AMESOL e apoio da Secretaria do Trabalho do Município de São Paulo.
Assim como na 1ª Mostra, que ocorreu em 2014, o objetivo é dar visibilidade às mulheres como produtoras e como agentes econômicas, para demostrar que outra economia não só é possível, como acontece fora da lógica capitalista de organização do trabalho. A Mostra, portanto, é parte de um processo, e não o seu fim em si. A economia solidária e feminista se propõe a partir da realidade das mulheres para, de uma nova forma, mudar suas vidas. É uma ferramenta importante para a garantia e a sustentação da autonomia econômica das mulheres e, por conseguinte, para superar a pobreza e a violência doméstica.
A atuação da SOF na construção da economia solidária e feminista
O envolvimento da SOF com a economia solidária começou a partir dos debates e reflexões da Rede Economia e Feminismo (REF), ao longo dos anos 2000. Em 2009, a SOF iniciou um trabalho mais permanente em São Paulo, através da articulação com mulheres organizadas, seja no movimento feminista, seja na dinâmica da economia solidária, com o objetivo de gerar renda e autonomia econômica. Foram protagonistas deste processo grupos como o Maria Mariá, na Zona Sul de São Paulo, a Casa Cidinha Kopcak e a Casa Viviane dos Santos, ambas na Zona Leste, que focam seu trabalho no atendimento a mulheres vítimas de violência. Para além da capital paulista, a SOF também acompanha grupos de mulheres da economia solidária na região de Registro, no Vale do Ribeira, e contribui com formações, articulações e debates no GT sobre gênero do Fórum de Economia Solidária.
A fundação da Associação de Mulheres na Economia Solidária em São Paulo (AMESOL), em 2013, teve um papel importante para fortalecer o processo de auto-organização das mulheres em São Paulo. Com o objetivo de organizar as demandas específicas das mulheres, a AMESOL vem cumprindo a importante função de colaborar para a organização das mulheres em empreendimentos, sem deixar de lado a formação feminista, a troca de experiências e a articulação entre todas. Estas etapas são fundamentais para a construção da economia solidária porque invertem a lógica capitalista, que vai na contramão da colaboração mútua e da coletividade. A AMESOL é parte da Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), criada a partir do projeto “Brasil Local: Economia Solidária e Economia Feminista”, que se iniciou em 2010.
Sustentabilidade da vida: uma agenda política
As articulações e reflexões sobre a economia feminista e solidária também se realizam em âmbito internacional. Em março deste ano, a SOF participou de atividades organizadas pela Red de Economía Solidaria y Alternativa do País Basco (REAS). O GT de Economia Feminista da REAS vem atuando há mais de dois anos com o objetivo de gerar um discurso crítico coletivo sobre a economia solidária e feminista e favorecer uma prática feminista e solidária na atuação dos mais de 50 empreendimentos que a compõem. Este foi o foco das Jornadas “La Bolsa o la Vida, conflictos y alternativas entre economía y vida” e de posterior reunião entre o GT, a SOF e a Xarxa de Economía de Cataluña. A pergunta que orientou os debates foi: “o que significa colocar a sustentabilidade da vida no centro de uma iniciativa de economia solidária? Como sustentar a vida em um sistema patriarcal, capitalista e racista que a destrói a todo momento?” A articulação entre produção e reprodução e entre político e econômico foram apresentadas como caminhos para uma economia feminista e solidária. Temas como qualificação, financiamento, comercialização e gestão foram citados como parte de uma agenda.
Segundo Maria Fernanda Marcelino, integrante da SOF e da Marcha Mundial das Mulheres, “o mundo vê a economia como algo que produz lucro. Nós vemos, a partir do feminismo, a economia como tudo que faz a sustentação da vida humana. Por isso, as mulheres estão no centro desta proposta”. A situação das mulheres no que diz respeito à economia está ainda muito aquém do desejado na realidade brasileira. São as mulheres as responsáveis pelo trabalho doméstico e de cuidados, além de ocupar cargos mais precarizados e com menores salários no mercado de trabalho, sendo as mulheres negras as mais exploradas. A autonomia econômica é uma resposta, portanto, para transformar a vida das mulheres. A economia solidária e feminista são ferramentas para isso, colocando no centro da organização econômica o bem-estar humano e questionando a divisão sexual do trabalho, o modelo de mercado dominante e a exploração capitalista.