Assembleia Geral de agricultoras e quilombolas de Barra do Turvo marca e comemora os três anos de ampliação de uma rede, gestada junto a consumidoras/es responsáveis da grande São Paulo e construída por mulheres de oito comunidades rurais de Barra do Turvo.
Nos últimos dias 22 e 23 de outubro, cerca de 50 mulheres agricultoras, quilombolas e jovens rurais estiveram reunidas no CEAFIM (Centro de Envolvimento Agroflorestal Filipe Moreira) para avaliar aprendizados e desafios, reafirmar acordos e pensar o futuro da rede de agricultoras.
Uma grande roda de apresentação deu início às atividades. Fotografias trouxeram à memória os passos percorridos ao longo dos três anos de organização de grupos de mulheres e fortalecimento da comercialização, um processo em parceria com a SOF, desde a realização da política pública de ATER Mulheres, iniciada em 2015.
Em seus diversos momentos, a rede de agricultoras foi se reinventando de acordo com as demandas que surgiam: inicialmente às reuniões eram com pequenos grupos, cada qual em sua comunidade, nos salões de pastoral, de associação, no barracão do viveiro comunitário, nas pequenas varandas. Com o fim das políticas públicas, os encontros passam a ser no salão paroquial apenas com representantes de cada grupo em 2017.
Em 2019, a vontade era de conhecer as comunidades e áreas produtivas umas das outras, que se distanciam em até 90 km dentro do mesmo município. Esses encontros mensais sempre se iniciam com um café reforçado e um mutirão pela manhã na roça de algumas agricultoras da Rede. Na parte da tarde, seguem as reuniões, sempre com muitos assuntos, voltados à comercialização para São Paulo, às feiras em Registro e também temas do cotidiano relacionadas com o que chamam de “o despertar das mulheres”, suas necessidades e processos de enfrentamento a desafios como a violência nas comunidades.
A presença, na assembleia, de agricultoras com diferentes tempos de participação na Rede serviu para trazer experiências e exemplos que geraram os aprendizados e desafios. Um ponto importante comentado foi que, para além da comercialização, a organização das mulheres em grupos criou maior convivência, e tem ajudado as mulheres a sair mais de casa, se sentir menos presa. A coletividade também as ajuda a conhecer mais sobre os direitos das mulheres, a valorizar a produção da roça para o consumo e comercialização, a aproveitar produtos que antes perdiam na roça. Os mutirões sempre trazem aprendizados e trocas de saberes e também aumentam a confiança.
Os depoimentos na assembleia demonstravam a satisfação em observar o caminho trilhado. “Tanta coisa que a gente já viveu, aprendeu, tantos lugares que já passamos, tanta luta e tanta vitória. Estamos na primeira assembleia da comercialização, e é tanta luta dessa mulherada valente, olhando pra tudo que a gente já viveu até agora. Nossa primeira assembleia de mulheres, imagina? É bom demais”.
Um dos pontos importantes da assembleia foi reafirmar os acordos de funcionamento da Rede. “Alguns acordos já existiam, mas ainda não estavam escritos em regimento”, disse uma das agricultoras. Um princípio dos grupos de mulheres é produzir sem veneno e sem adubo químico. Outros acordos têm relação com a entrada de mais mulheres e grupos na rede, aos procedimentos (como o uso do fogo nas roças tradicionais feita por agricultoras quilombolas), à organização de mutirões, participação em feiras e comunicação entre os grupos.
A atividade foi encerrada com o tema da abertura de novos mercados, uma necessidade para ampliar a comercialização e favorecer a acolhida de mais agricultoras na rede. Também se busca chegar a ajustes operacionais junto à Rede de Grupos de Consumo da Grande São Paulo, para diminuir a quantidade de trabalho necessária para a organização de pedidos e a gestão de dados.
Com muita alegria, a assembleia definiu o nome da rede: RAMA, Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras. A tarefa de fazer uma canção já apareceu desde então, já que a cantoria faz parte das reuniões.
O convite da CRU – Solo (Coletivo Rural Urbano – Soliedariedade Orgânica) para a participação da 1ª Semana de Agroecologia, Mostra de Agroecologia e Economia Solidária acelerou o processo de composição, resultando nesse lindo poema que representa a RAMA, da autoria de Jane, do Quilombo Terra Seca, pertencente ao grupo As Perobas.
parabéns a SOF estamos sempre acompanhando esse importante trabalho. A SOF é referência para a nossa atuação no Promotoras legais Populares em Sorocaba e região.